domingo, 13 de fevereiro de 2011

Ariadna Thalia, do ‘BBB 11’: ‘Em nenhum momento me senti rejeitada’

Primeira transexual a participar do "Big Brother Brasil". Primeira eliminada da 11ª edição do reality show. Se uma coisa tem a ver com a outra? Ariadna Thalia, de 26 anos, acredita que não.
— Em nenhum momento me senti rejeitada. Preconceito, para mim, vem junto com agressividade. Ao contrário, tenho recebido muito carinho das pessoas — diz a carioca, que não vingou nem na segunda chance de retornar ao programa, com a Casa de Vidro: — Não era mesmo para ser — minimiza.
Nascida Thiago da Silva Arantes, há 26 anos, no subúrbio do Rio, Ariadna diz que experimentou todas as fases: já foi menino, gay, travesti e transexual.
— Hoje, sou mulher por inteiro. A transexualidade é só o período de transição entre o travesti e a operada. Uma vez operada, sou mulher.
Até se tornar conhecida nacionalmente, no "BBB 11", Ari passou por muitos revéses. O principal deles, como se pode imaginar, foi a angústia de não se identificar com o próprio corpo:
— Nunca me desesperei, mas queria ter nascido mulher. Era triste saber que eu não era como sonhava.


Começo difícil
"Sou carioca de Irajá. Até os 6 anos, morei lá. Não tive pai presente, mas minha mãe fez o papel dos dois. Ela sempre foi muito parecida comigo, guerreira. Depois, minha mãe conheceu outro homem, e a gente se mudou para a favela Palmeirinha, em Guadalupe. Era um barraco de um cômodo, sem banheiro... Meu padrasto era alcoólatra, batia em mim e no meu irmão. Às vezes, até demais. Minha mãe ficava entre a cruz e a espada. Ela queria dar um pai para a gente, achava que o que estava fazendo era certo".

Brincadeira de criança
"Sempre fui muito delicada. Não gostava de futebol nem de bola de gude, nada que era de menino. Meu negócio era brincar de casinha, de boneca. Lembro que, uma vez, peguei um vestido da minha mãe, coloquei um travesseiro na barriga e fiquei no sofá fingindo que estava tendo neném. Ela viu e me bateu muito: ‘Toma jeito!’ Eu tinha uns 6 ou 7 anos... Minha mãe sabia que eu tinha um jeito diferente, mas nunca quis acreditar. Eu gostava de estar com as meninas, e para ela não brigar, eu falava: ‘Mãe, eu tô brincando de casinha, mas sou o pai das bonecas, tá?’. Aí ela virava as costas e eu falava para as coleguinhas: ‘Ó, eu sou a mamãe, tá?’. E elas me obedeciam".

A adolescência
"Meu jeito feminino começou a aflorar aos 14 anos, quando saí de casa e fui morar com a minha avó. Comprava roupas femininas e escondia num bueiro e perto da lata do lixo, onde sabia que ninguém ia mexer. Ia para a linha do trem, no meio do mato, me vestir. De manhã cedo, vinha, trocava de roupa, tirava a maquiagem e voltava para casa. Na escola, eu parecia uma menina. Usava a calça coladinha, um blusa justa e curta... E não respondia quando o professor me chamava pelo nome, só pelo número. O diretor não me proibia de usar o banheiro das meninas, isso era bem legal".

Alma feminina
"Sempre me senti estranha. Me olhava no espelho e só enxergava a minha alma de mulher. Colocava toalha enrolada na cabeça para fingir que era cabelão. Nunca me desesperei, mas queria ter nascido mulher. Era triste saber que eu não era como sonhava. Quando comecei a me montar, via as outras travestis e falava: ‘Gente, que peito lindo! Eu quero também!’ Ao mesmo tempo, tinha medo, porque via que elas colocavam silicone injetável. Foi quando, aos 16 anos, comecei a tomar hormônio para me transformar. Mas sempre fui muito feminina, com rosto delicado, corpo magro. Não tenho gogó. A plástica que fiz na pálpebra é só porque estava em excesso, me incomodando. De resto, só mexi no peito e na genitália".
A viagem para a Itália
"Com 19 anos, começou a rolar o papo de ser garota de programa. Duas conhecidas minhas foram para a Itália, vi que elas prosperaram e pensei: ‘Vou ficar aqui no Brasil morando de favor?’. Ganhava salário mínimo! Ninguém me levou amarrada, fui porque quis. Fiquei cinco anos lá. Já tinha feito uns poucos programas no Brasil antes, para ver como era. Nunca gostei, tinha dia em que nem dormia, ansiosa por trabalhar, trabalhar e conseguir comprar a minha casa. Por outro lado, ganhava muito bem. Posso dizer que tudo que tenho hoje foi por causa disso (da prostituição). Até que, em 2009, dois mafiosos me sequestraram, botaram uma arma na minha cara, me amarraram e me roubaram uma quantia enorme em dinheiro, computador e celular. Dei queixa na polícia, mas quem foi detida fui eu, porque não tinha declarado as minhas posses. Só nove dias depois é que consegui chorar. Aí, chorei por três horas seguidas. Fiquei paranoica e quis logo voltar para o Brasil".

Relacionamentos
"A primeira pessoa com quem me relacionei foi um homem, um vizinho. Eu tinha 16 anos. Nunca fiquei com mulher. Só dei selinho na escola, de pilha. Nunca rolou beijo de verdade nem nada com elas. Não gosto! Mulher é muito delicada, e eu sou assim. Meu negócio é aquele homem de pegada, mãozão, pezão. Sempre gostei de homem fortão! Desde pequenininha, já sabia que mulher não era a minha. Da minha primeira vez, também não tenho boas lembranças, foi muito estranho. Fiquei apaixonada e ele me traiu".

Transformações
"Já passei por todas as fases. Já fui menino, gay, travesti, transexual e, agora, sou mulher. Operei o sexo em Bangkok, na Tailândia, com o doutor Kamol Pansritum, uma assumidade no assunto. Me programei durante sete meses, juntei a grana, providenciei a documentação e fui sozinha para lá, na cara e na coragem. Os médicos me mandaram fazer um tratamento psicológico prévio, e os caras que me examinaram se surpreenderam, disseram que eu não tinha o que esperar, que eu era uma mulher mesmo. Me recuperei superbem da cirurgia. Assim que acordei, olhei para o meio das minhas pernas e agradeci a Deus porque eu estava viva e realizada".

O transexualismo
"O próprio médico me disse que transexualismo é só o período de transição entre a fase travesti e a de operada. Uma vez operada, sou mulher. Na minha certidão de nascimento não vem escrito ‘Sexo: transexual’. Isso não existe! O povo diz que quem opera ‘lá’ fica louco. Mentira! Minha personalidade nem minha sanidade mudaram. Depois da operação, fiquei, sim, mais frágil. Aquela mulher que existia dentro de mim aflorou. E tenho até sintomas físicos de mulher, como calores da menopausa, por causa do hormônio que vou ter que tomar a vida toda".

Ser mãe
"Tive um namorado italiano maravilhoso, estávamos apaixonados. Um dia, de frente para o espelho, ele me abraçou e falou: ‘Nossa, como somos um casal lindo! Pena que você não pode me dar um filho... Ia ser tão linda uma criança com a cor da sua pele e a cor dos meus olhos...’. Me frustrei, chorei sozinha. Nem tudo pode ser tão perfeito quanto a gente quer, né? Mais à frente, com 35 anos, pretendo adotar duas crianças".

Ariadna Thalia
"Sempre fui fanática pela cantora Thalia. Amo ela de paixão, é o amor da minha vida! Então, ganhei esse apelido dos amigos. Ariadna era meu nome de trabalho na Itália, me deu muita sorte. Depois da operação, já me apresentava às pessoas como Ariadna, simplesmente. Thiago, para mim, é nome de falecido. Eu falo isso, minha mãe odeia".

Rejeição
"Falo que sou operada para as pessoas mais íntimas. Vivo como mulher na sociedade, sou uma mulher, e as pessoas têm que colocar isso na cabeça. O rótulo ex-BBB não me incomoda, mas porque na legenda de cada foto minha tem que vir ‘transexual’? Alguém coloca ‘a heterossexual’ Sabrina Sato? Parece que estão tentando me atingir. Mas sou uma mulher muito bem-resolvida. E não me senti rejeitada pelo público em nenhum momento. Só fiquei muito decepcionada porque estava confiante em voltar. Se tinha que ser assim, foi. Para mim, o preconceito só existe quando vem de forma agressiva".
Namorados
"Muitos homens que ficaram comigo só souberam que eu era operada por causa do ‘Big Brother’, e ainda assim alguns deles dizem que a mídia é que está inventando. Muitos homens passaram pela minha vida! Para a maioria, eu falava que era operada, mas teve uns que mesmo depois da transa não perceberam. E os que perceberam, falaram que era até melhor".

Casamento
"Quero casar de véu e grinalda. Como toda mulher, tenho esse sonho. Na igreja, não, até porque minha mãe não iria, pela religião dela (ela é Testemunha de Jeová). Mas penso num jardim, com o juiz falando aquelas mensagens lindas...".

Relação com a mãe
"No começo, foi difícil para ela aceitar, mas ela sempre me defendeu. Quando ainda era Thiago, se alguém me chamasse de viadinho, ela virava um bicho. Hoje, se me chamam de Thiago, ela se revolta: ‘O nome dela é Ariadna Thalia!!!’".

Deus
"Acredito num Deus supremo. E o meu é Jeová. Em nenhum momento me voltei contra Ele. Se nasci assim, não posso colocar a culpa em Deus. Me apego a Ele, que é a minha direção"

Futuro
"Quero procurar uma boa agência. Ser modelo é uma coisa de que gosto muito, e acho que levo jeito para isso. Também quero fazer um curso de teatro, quem sabe ser atriz... Eu me dei bem com isso quando era nova, na escola. Se não rolar nada disso, vou dar continuidade ao meu curso de cabeleireira".

‘Playboy’
"Não tenho problema com nudez. Sou ‘A desinibida de Realengo’! Mas, se eu for posar, tem que ser um sensual artístico, não vou sair por aí me escancarando, com vulgaridade. Faz bem ao ego ser admirada pela beleza, e tenho certeza de que, quando sair a revista, muita mulher vai querer ver. Todas que estão no ‘BBB’ querem sair na ‘Playboy’, querem ser um símbolo sexual. Tenho potencial, por que não? Sou muito vaidosa! Minha boca e meu olhar são bonitos... Acho que não vou precisar de Photoshop, mas tenho um pouquinho de celulite e estria nas pernas. Na revista, o que vai chamar a atenção é ela, a minha filha, minha borboletinha. E, para mostrá-la, não tenho noção de valor, mas se pudesse pediria até R$ 10 milhões".http://extra.globo.com/tv-e-lazer/bbb/ariadna-thalia-do-bbb-11-em-nenhum-momento-me-senti-rejeitada-1042454.html

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