sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Antonio Prata: Como você assiste ao BBB?

Não assisto ao BBB, mas o acompanho por tabela, lendo os comentários no Twitter e Facebook. Essas duas ferramentas sociais, aliás, nada mais são do que versões moderadas do Grande Irmão: você escolhe na intimidade de quem quer se meter e os outros só te vêem brigando com a sua mulher ou fazendo macarrão de sunga se você colocar uma foto ou vídeo em que apareça nessas situações.
Antes de entrar no Twitter, achava que o BBB era um divisor de águas: de um lado, os que o assistiam, do outro, os que o desancavam. Mas, através do microblog, percebi que o programa é uma espécie de Neston televisivo: há mil maneiras de assisti-lo --invente a sua.
Há os que simplesmente o acompanham e pronto. São os que tuítam "vai, Rodrigão!", "me mata do coração, Talula!", "que demais, o Daniel é o novo líder! Parabéns a toda a comunidade GLBT!".
Há os que assistem com auto-irônica indulgência, assim como quem pede uma Fanta Uva: o cara sabe que é ruim, mas gosta, fazer o que? Lá pelas dez, começa a tuitar "ai, saco, tenho que ir satisfazer meu vício midiático...".
Aumentando um pouco a chave da ironia, chegamos ao sarcasmo e ao sujeito que assiste ao programa só para debulhá-lo. É uma relação sado-masoquista, mais ou menos como, imagino, a do torcedor do Bangu com o seu time. O cara fica lá, diante da TV, praguejando e tuitando: "que porcaria!", "que gente burra!", "meu Deus, esse mundo tá perdido! Onde vamos parar?!".
Há a postura antropológico-analítica. A pessoa, de trás de seus óculos de acetato preto, assiste não porque gosta ou odeia, mas porque é isso que a maioria das pessoas vê e ela precisa estar atualizada. Enquanto faz o mergulho na psique-pop, tece comentários despidos de qualquer afeto, porém cheios de inteligência: "veja só, eu acho que o fato de um gay estar na liderança tende a fazer com os héteros fiquem acuados, mas por outro lado, bla bla bla...".
Por último, há o BBB por tabela, que pratiquei até ontem. Em vez de ir até a TV, ver o que Jana, Diana, Wesley e cia faziam, ficava diante do computador, lendo o que meus amigos Rodrigo, Nina, Ricardo e cia diziam sobre o que Jana, Diana, Wesley e cia faziam. De tempos em tempos, eu, todo poderoso - Pedro Bial e público de meu próprio mundo -- dava um unfollow no amigo que fazia os comentários mais chatos, e um follow em outros cujos bons retuítes chegaram até meu computador.
Ontem, pela primeira vez, assisti a um episódio do BBB11. E sabe o que? Achei que o programa parecia bem mais interessante quando narrado pelos comentaristas do Twitter. Percebi, então, que o Big Brother tornou-se um formato antigo. Nasceu no mundo pré-mídia social, quando a intimidade alheia ainda desenrolava-se entre quatro paredes. Agora, estamos todos escancarados: em Twitters, Facebooks, Orkuts, Youtube.
Pra que seguir os bastidores das rusgas entre o Diogo e a Talula se posso acompanhar as fofocas do divórcio de dois amigos meus, que trocam farpas pela rede? Pra que me preocupar com a liderança do Daniel se posso seguir a Dilma, o Obama? Que barraco do BBB é maior do que meio time do Santos falando absurdos ao vivo, na webcam, num quarto de hotel?
Tá certo, ainda não é possível ver Obama fazendo macarrão de sunga, ou assistir às intimidades subedredônicas que a ex de meu amigo supostamente compartilhou com o padeiro, e levaram à separação. Mas, pela velocidade com que as mídias sociais ganham espaço e pela facilidade com que despimos corpo e alma diante delas, talvez seja apenas uma questão de tempo. http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/881036-antonio-prata-como-voce-assiste-ao-bbb.shtml

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