O "reality show" estreou há cerca de 10 anos. Fez muito sucesso no começo e virou mania nacional. Também foi muito criticado: fútil, vazio, perda de tempo. Jovens bonitos aproveitaram a exposição na TV para engatar carreiras como atores ou apresentadores. Atualmente o programa não mobiliza mais a audiência como costumava fazer, mas ainda rende assunto. E como.
Estou falando do "Gran Hermano", cuja 6ª temporada vem sendo exibida pelo canal argentino Telefe. Tive a oportunidade de assistir a alguns trechos durante uma viagem a Buenos Aires. As semelhanças com o "BBB" são muitas, claro --afinal, os dois são franquias do formato "Big Brother", desenvolvido pela produtora holandesa Endemol e vendido para dezenas de países.
Mas são as diferenças que mais me atraíram a atenção. A começar pela longuíssima duração: esta edição começou em 12 de dezembro do ano passado e ameaça avançar inverno adentro. Nem o site oficial nem a Wikipedia informam a data da final.
O número de participantes é um pouco maior que o daqui, 22. E o prêmio é incrivelmente menor --"apenas" 400 mil pesos, aproximadamente R$ 200 mil. Um contraste inequívoco entre as economias do Brasil e da Argentina.
A casa também é menor e menos luxuosa que a brasileira. A piscina é mais apertada e o pé-direito parece mais baixo, o que reforça a sensação de claustrofobia. Os cenários de cores mais escuras e a música dramática criam um clima muito mais pesado e menos carnavalesco que a versão tupiniquim.
Mas o que mais salta aos olhos é o comportamento dos "hermanos". Sim, também rola amor e sexo entre eles. Mas não existe uma equivalente à nossa Maria, mais interessada num príncipe encantado do que num reles prêmio em dinheiro.
Na Argentina o jogo é mais declarado. Ninguém veio fazer amigos. Os conchavos são mais claros, os conflitos mais ásperos. "Falta de afinidade" não aparece no dicionário. Nenhum participante quer parecer "gente boa" aos olhos do público.
As regras complicam a trama ainda mais. Há um sistema de cartas que devem ser escolhidas pelos candidatos ao votar no confessionário: dependendo da cor sorteada, o voto vale em dobro, ou só metade, e assim por diante.
E o paredão --chamado por lá de "gala de expulsón"-- não tem o clima de confraternização que rola no Brasil. Assim que é eliminado, o ex-GH é entrevistado num estúdio pelo apresentador Jorge Rial (outra coincidência cósmica). Só depois de dissecar as razões que o levaram à derrota é que o infeliz pode abraçar sua família.
A ambição despudorada dos participantes argentinos é um ponto a favor. O "Gran Hermano" tem intrigas que lembram um bom filme de mafiosos. Um recém-expulso rompeu em lágrimas ao descobrir que sua peguete lá dentro na verdade era a chefe de uma conspiração para exterminá-lo.
Mas os valores de produção e o ritmo variado imposto na versão brasileira tornam o programa mais agradável de se ver. Virou moda falar mal da decadência do "BBB". Pois para estes críticos eu digo: agradeçam que não estamos na Argentina.
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/889992-tony-goes-gran-hermano.shtml
Nenhum comentário:
Postar um comentário