sábado, 2 de abril de 2011

O Fantasma voyeur

José Luiz Teixeira
De São Paulo
Esta semana, chegou ao fim mais um Big Brother Brasil, finalmente vencido, aliás, por uma moça bonita. O reality show deste ano teve menos ibope do que nos anos anteriores. Mesmo assim, ainda arrebanhou audiência suficiente para garantir sua décima segunda edição em 2012.
Impressionante como esse tipo de programa faz sucesso, calcado na curiosidade do ser humano em bisbilhotar a vida alheia. Ele explora bem esse impulso "voyeur" que já nasce com a gente, faz parte dos nossos instintos.
Desde criança, temos uma tentação pela intimidade dos outros que chega a ser perigosa. Eu mesmo já levei um dos maiores sustos da minha vida por causa desse incontido desejo, quando tinha uns 11 ou 12 anos de idade.
Com mais dois amigos, resolvi aceitar o desafio de invadir o quintal vizinho para ver se conseguíamos assistir pelo vitrô ao banho da já mocinha irmã do Naldinho - outro menino da nossa rua, um pouco mais novo do que nós. Resisti um pouco à tentação, mas nessas horas a curiosidade vence o medo, o cio vence a razão, e esquecendo-me da surra que poderia levar do meu pai, topei a pequena aventura.
Pulamos o muro, e pé-ante-pé entramos silenciosamente pelos fundos da residência, aproveitando-nos da meia-luz da Lua Crescente. O último da fila, obviamente, era eu, o mais medroso de todos. De repente, a uns dez passos da cena do crime, a porta da cozinha da casa do Naldinho se abriu. Os meus amigos conseguiram se esconder. Eu, o mais pateta, não. Simplesmente parei, estarrecido.
Meu Deus! Como iria explicar minha presença ali, no escuro, imóvel, no meio do quintal da casa de um vizinho? Gelei. Meu fim chegara e eu iria morrer sem nunca ter visto uma menina nua!
Foi quando tive uma revelação: descobri que os anjos da guarda realmente existem. Quem abrira a porta e começava a descer as escadas com destino ao quintal era o próprio Naldinho, com seus passinhos curtos e ágeis. Inspirado pela presença de espírito salvadora, instintivamente abri os braços e fiquei ali, estático, tal qual um espantalho de outro mundo.
E deu-se o milagre. Como eu vestia uma blusa branca, imagino que só ela tenha se refletido no escuro. E a cena deve ter se tornado, mesmo, aterrorizadora, pois o garoto olhou na minha direção, arregalou os olhos, deu meia volta e voou para dentro de casa que nem um rojão. Soltei a respiração, pulei o muro de volta e fui embora com o coração na boca.
O assustado Naldinho até hoje deve achar que viu um fantasma de verdade naquela noite. Quanto a mim, depois dessa não quis me atrever a mais nenhuma janela indiscreta. "Voyeurismo", só pela televisão e, assim mesmo, com a chancela do Pedro Bial. http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI5042364-EI14381,00-O+Fantasma+voyeur.html

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